Se entardeceu e você ficou (ainda mais) triste, se a falta de perspectiva começa a pesar, se bate aquela vontade de respirar outros ares e algo não deixa, ouça uma bonita música.
Tente o que ainda não conhece, aventure-se. Sem mais do mesmo.
Nas quentes notas do flamenco, por exemplo, tem o que em espanhol chamamos “la sangre”. Como tem no filme Manolete, tão bonito, mas que desagradará aos politicamente corretos (os novos).
Essa gente andaluza se diverte e encherá de encanto sua tarde, garanto. A voz se quebra, depois se arrasta sem desafinar, traz aquela vogal mais sonora. E as mãos acompanham, como só as mãos andaluzas sabem fazer. E o corpo mais parece uma onda do mar, suave e ondulado, sensual sem ser vulgar. Rosario Flores, Diego el Cigala. Ou então sofre por você e por todo mundo que sabe o que é amar. Mayte Martín.
Tanto faz, qualquer um desses vale a pena. Nem um poço de amargura resiste à beleza do flamenco. Impossível não arrancar lá do fundo da sua tristeza um riso aberto, ou um arrepio, ou um assomo de ternura.
Marly Peres