Prefiro a estética da variedade e não a da repetição. Gosto de ir. O que não me impede de voltar. Volto para um pedaço de minha pátria, que são meus 2 pequenos amores, mes petits amours. Porque meus outros amores, meus outros rincões de pátria também são 2 : a Filosofia, que me habita e dispensa passaporte ; e minha língua, como disse Fernando Pessoa. No meu caso, a do coração, que é falada para onde eu vou quando preciso de ar.
Voltar para casa, voltar à pátria amada depois de enfrentar o desconhecido. Vale dizer que quando vou em busca do novo, dou sempre uma passada por meu porto seguro. Quanto maior o arco que descreve o barco, ao se afastar do cais, maior o prazer e a beleza de pisar terra firme.
E quando o arco inclui as ausências por vezes longas, do porto seguro, ao voltar e pisar essa terra firme e amada, que faz o resto do mundo ser um grande exílio, então o prazer é mais forte e me toma e me invade e emerge na forma de escrita, ou na forma de emoção renovada.
A pátria pode ser civil, linguística ou de paisagem. A minha não é civil, seguramente. É linguística e é de uma paisagem, é uma cultura, uma tradição, uma herança, um pertencimento, as artes e as letras, uma certa visão de mundo, um certo estar no mundo, um jeito de se relacionar. Chama-se Europa, essa filha da Grécia que eu amo tanto. Sei que está na moda falar mal, mas não dou a mínima.
A esse respeito, de voltar para casa, Hermann von Keyserling, filósofo alemão, tem uma frase famosa, para mim muito verdadeira : o caminho mais curto que conduz a você mesmo leva você primeiro a dar a volta ao mundo.
Melancolia, essa espécie de felicidade de estar triste, conjugada a uma fome do mundo. Longe de casa, melancolia perene que alimenta a fome de estar lá.
Marly N Peres