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País sem heróis

Porque somos um país sem heróis.
Porque não cultuamos nossa memória, vivemos do hoje apressado da mídia e da TV. E porque a TV brasileira é ruim, é lamentável.
Porque nos satisfazemos com pouco. Aceitamos pouco. O que nos faz valer pouco.

Nivelamos por baixo, o simples passou a ser sinônimo de bom, Excelência se transformou em palavrão, mérito em xingamento ideológico. E vamos ficando com o médio, com o popular, com o tosco, com o medíocre. Com o ruim.

Temos no acervo da nossa memória popular – essa sim – a voz de Elis Regina, de Nana Caymmi. Aquela nota esticada no modo mais que perfeito, aquela nota que dói, de tão bonita. Um acorde, um único acorde Tom Jobim. A doçura e a construção inefável dos versos de Vinícius de Moraes. Temos Edu Lobo, para quem qualquer adjetivo parece pouco, insuficiente.
Mas não ouvimos, não cultuamos. Vamos ficando com o pior, o que é “fácil”. Palatável. Pobre país, triste país mascarado de alegre. Alegre talvez, mas feliz de modo algum.

Pobres de nós. Choro mansamente de tristeza por nós, por esse país acabrunhado e envergonhado de si mesmo. Apequenado. Um país que poderia ter sido e não foi. Uma promessa não cumprida.
Nos tornamos tão cegos à beleza que já nem a reconhecemos. E uma das belezas maiores é da verdade, aquilo que se desvela e se descobre num átimo, num segundo. Rápida como uma porta de ministério que se bate. E deixa um silêncio ensurdecedor de verdade escancarada.

Nossa memória é curta e superficial. Seremos ainda capazes de mudar e de nos construirmos como povo e país ? E de termos mais do que o futebol como valor comum ?
Porque, do contrário, continuaremos a ter líderes sem cultura e sem educação, ao invés de heróis elevados a essa condição por um saber que sirva de lastro para sua ação nobre e magistral, mesmo que não togada. Porque precisamos de quem tenha coragem de bater as portas de modo estrondoso. E – sobretudo – de abrir outras.

Marly N Peres