Paris continua sendo a cidade querida da humanidade, aquela que, como escrevia Sébastien Mercier em 1788, em seu « Tableau de Paris », fixa para sempre os olhares do mundo inteiro. E o meu.
Por isso às vezes, para não dizer a intervalos cada vez mais breves, meu olhar fica perdido, procurando o que reconhecer. Hesitante, vagueia. Tateia espaços, sem pousar com brilho. Desalentado, busca referências sem encontrar. Triste, desanima e desiste, se refugiando na lembrança. Acabrunhado, dorme vazio. Não é saudade, é falta.
É uma ausência avassaladora que vai envolvendo os dias numa névoa difusa que só quer se dissipar e reencontrar com um suspiro de alívio aquele céu, aquelas ruas, aquela margem de rio, aquelas fachadas. Aquele estar ali, simplesmente. Para poder fixar o olhar, mansamente. Porto seguro, casa, referência. Terra firme.
Abastecidos os olhos, todo o resto vai para o lugar, o peito arfa cadenciado, uma calma quentinha invade tudo por dentro, o sorriso brota fácil, o ar fica leve de respirar e à noite o olhar descansa enfim, apaziguado e alojado.
Marly N Peres