Em outra publicação, a Juliana falou sobre o nobre e ilustre Heitor, para usar as palavras de Homero, na “Ilíada”.
E lembrou da importância da geografia. A guerra de Tróia existiu de verdade, mas não por causa do rapto da bela Helena e sim, porque Tróia já era um importante entreposto comercial bem no coração da Eurásia, região que os estrategistas de hoje afirmam categoricamente ser o de controle do mundo.
Ainda hoje, a geopolítica nos remete à Guerra de Tróia.
A OTAN foi criada em 1949 como organismo de defesa dos países do Atlântico Norte. Naquele momento de pós-guerra, os países do hemisfério Norte se uniram, frente à ameaça do bloco soviético.
Desde então, o mundo mudou, se tornou multipolar – e não mais bipolar, como naquela época – e os países que aderiram ao Tratado chegam hoje até a Eurásia. O 30º país é a Macedônia do Norte nos Bálcãs.
E os EUA acabaram substituindo a palavra defesa (que aparece no Art. 5º da Carta da OTAN) pela palavra segurança. Porque convém a eles, por questões comerciais e não de guerra.
Prova que Thomas Friedman tem razão quando diz que “A mão invisível do mercado não funciona sem um punho fechado bem escondido.” Quer dizer, sem a força.
Com a formidável capacidade bélica das tropas da OTAN (muito superiores às da ONU), a área a ser “defendida” aumentou exponencialmente, para área a ser “protegida”: não se trata mais de se defender de uma força local (Atlântico Norte), mas sim mundial – como chineses na África, ou qualquer potencial ameaça comercial), em nome da hegemonia norte-americana. O que simplesmente desaloja a ONU dessas funções.
A OTAN gasta sozinha 987 bilhões de dólares (mais de 50% das despesas mundiais de defesa), mas já não se limita à defesa ou a “proteção”. Exemplo disso são ações ofensivas como as que promoveu na Líbia ou no Afeganistão.
Ou seja, é a globalização lado a lado com a conquista de territórios.
E tem mais – esse Art. 5º do qual falei estabelece exatamente o que estabeleceram os pretendentes de Helena, no mito grego que fala do motivo da guerra : qualquer ataque ou ameaça a um dos países-membros será considerado um ataque ou ameaça ao conjunto deles, justificando pegar em armas e dispor tropas.
É por isso que no mito as tropas helenas vão se unir: para cumprir uma promessa de defesa.
Isso é o que se pode chamar de inconsciente coletivo !
Marly N Peres