No século V antes da nossa era, Anaxágoras repete essa fórmula 4 vezes nos poucos fragmentos que nos restaram do tratado que ele escreveu, chamado “Sobre a Natureza”. E isso abre, em termos bastante simples, uma janela para um mundo vertiginoso e hoje confirmado pela ciência : não importa qual parcela de matéria, mesmo muito pequena, contém uma infinidade de coisas diferentes, em proporções diversas, a maior parte delas em quantidades tão infinitesimais, que ,são imperceptíveis.
Ou seja, tudo o que parece finito contém na realidade o infinito. Leituras mais esotéricas acham que isso é atual e no entanto tem quase 30 séculos e de esotérico não tem nada. O que é que Anaxágoras está dizendo ? Que isso pode parecer estranho num primeiro momento, sobretudo para eles, que eram tão racionais – eles gregos. Ele está nos falando da teoria dos opostos complementares.
Que diz que existe o quente no frio, o obscuro na luz do Sol ; no nosso mundo, passado atual e futuro, tudo contém uma parte residual da mistura integral das origens e, portanto, a infinidade das diferenças.
Mas se um cubo de gelo é percebido como tal, é porque nele o frio predomina sobre o quente. Não é que o quente não exista, ali. Nós só vemos aquele cubo de gelo daquela maneira a partir de um certo limiar quantitativo e, portanto, não qualificamos as propriedades dos objetos a não ser de maneira imperfeita.
O visível é um índice do invisível, mas não o desvela completamente.
Marly Peres