Um mito grego nos conta a história do casamento de Admeto com Alceste, uma das
filhas de um rei cuja figura virtuosa encarnava o amor conjugal. Para conseguir se
casar com ela, Admeto deve lavrar um campo com um javali e um leão atrelados
juntos.
Com a ajuda dos gêmeos Apolo e Artemis, ele consegue. Mas deixa de fazer
um sacrifício para Artemis, que fica furiosa (não, nunca é bom, contrariar os Deuses,
ou não cumprir promessas).
Admeto é então punido com a morte. Mas Apolo negocia com a irmã e consegue que o
rapaz possa sobreviver, se conseguir alguém que o substitua. A única pessoa que
se dispõe a fazer isso por ele é a noiva, Alceste. A quem ele nem pediu…
A moça toma veneno e morre. Impressionado com a dor do casal, o fortão Hércules
vai corajosamente até o Hades (as profundezas), enfrenta a morte e traz a moça de
volta. Mas ela não abre a boca.
Ao descer ao outro lado da vida ela tinha visto seu avesso. E entendeu que os opostos
são inseparáveis, se entrelaçam sempre porque formam uma só figura : a figura
imperfeita e incompleta do ser humano, feito de amor e morte, de coragem e
covardia, de amizade e traição, de generosidade e egoísmo.
Não há Bem e Mal, só dois lados da mesma moeda.
Marly Peres
