Tem muita gente que acredita ter amigos nas redes sociais. Mas penso que isso é discutível. Sem nos debruçarmos sobre definições muito acadêmicas do que venha a ser a amizade, talvez possamos ficar com o que diz Montaigne, que tem um estilo muito agradável de se ler, um linguajar bastante fácil de se compreender.
Ele, que foi um grande amigo de La Boétie, outro filósofo, disse que a amizade é, num certo sentido, o contrário do amor, porque o amor tende a empalidecer, a se esgarçar com o tempo, na medida em que é satisfeito. Ao passo que a amizade só prospera com o tempo.
A amizade não é uma relação que possa se basear em interesses, em relações sociais – isso são obrigações, agradecimentos, meras relações sociais. Porque a amizade verdadeira pertence à esfera dos sentimentos e não à esfera social. E ela se inspira numa estima mútua, baseada na integridade.
Não nessa linha, e sim com um certo cinismo, Pascal fez uma observação que dá o que pensar, sobretudo em tempos de redes sociais : “Se todos soubessem o que dizem uns dos outros, não haveria neste mundo mais do que 4 amigos.”
Desse ponto de vista, essa alegada vontade de transparência, das redes sociais, representa o que, afinal ? O fim da amizade…
Marly N Peres