No meu texto Cuidado com a lógica sugeri algumas reflexões a respeito
da lógica e de que como ela não prova absolutamente nada, pois toda a sorte
de teorias e mesmo de falácias pode ser estruturada a partir de um discurso
impecavelmente lógico. Encontramos isso o tempo todo no ofício dos
advogados, dos jornalistas, dos filósofos… E no nosso próprio dia a dia !
Você deverá estar se perguntando : será ? Minha resposta, ainda que
inconveniente, é um retumbante sim ! Ao afirmar nossas ideias, nossos pontos
de vistas, contrapondo-os a um outro ponto de vista, seja ele de um interlocutor
em particular ou de um grupo maior e difuso, estamos o tempo todo nos
valendo de recursos nada nobres. Afinal, queiramos ou não, raramente nós,
seres humanos, queremos verdadeiramente encontrar a verdade, mas tão
somente nos esforçamos e mesmo nos viramos do avesso para impor a nossa
própria visão de mundo.
Feio, não ? De fato, é. Mas se esta constatação o incomoda, o melhor a se
fazer é aceitá-la e conhecê-la, a fim de que, caso você queira realmente pensar
como gente grande e madura, liberte-se aos poucos desses truques de que
sempre nos valemos sem nos darmos conta.
Há um ramo da Filosofia que trata dessa questão e se chama heurística,
popularizado por Arthur Schopenhauer a partir de um manuscrito inacabado
encontrado entre os seus escritos após sua morte. Caso queira se aprofundar,
recomendo o livro “A arte de ter razão – 38 estratagemas para vencer um
debate sem precisar ter razão”, da editora Montecristo.
Mas não é preciso sequer ler a obra para se tornar consciente desses
estratagemas que usamos na ânsia de vencer um debate para a gratificação do
nosso ego e não para encontrar uma real solução para um problema concreto.
Pense comigo e tire suas próprias conclusões !
Quantas vezes você, ao defender suas ideias, interpreta o tema de maneira
extremamente genérica e ampla, ou exagera artificialmente o ponto de vista
contrário ao seu para desmerecê-lo ? Ou, para enfraquecer a ideia que não lhe
agrada, eleva-a a um status absoluto que ela nunca teve ?
Numa discussão corpo a corpo, quantas vezes você já inseriu premissas sutis,
mas falsas, para enredar o interlocutor e levá-lo a se contradizer ? Ou então
buscou encolerizar seu adversário e, percebendo o que o irrita, insistiu nesse
ponto ? Isso sem falar daquelas vezes em que você pode ter partido para o
ataque pessoal…
Os exemplos poderiam se multiplicar enormemente… Usamos muito
frequentemente argumentos de autoridade, lançando mão das opiniões de
outras pessoas de maior prestígio ou poder para reforçar as nossas próprias.
Ou, ainda, quando notamos que estamos perdendo a briga, começamos a falar
muito difícil, usando de expressões técnicas fora do alcance do outro, para
passar a falsa impressão de que somos cultos.
Difícil encarar a si mesmo com tanta crueza, não ? Difícil, mas necessário,
caso você queira realmente chamar a si mesmo de amigo da sabedoria !
Dr. Aluísio Berezowski