Afinal, qual a diferença ?
O rizoma é uma celebração do pensamento em rede, ele é transversal, tentacular e
nômade, único e sedentário. Como o rizoma pode nos ajudar a pensar o mundo ?
Gilles Deleuze e Félix Guattari distinguem rizoma e raiz.
A raiz se desenvolve segundo um eixo vertical, é um sistema arborescente com um alto e um baixo, que suscita a imagem de fundamento e da hierarquia. Ao contrário, o rizoma prolifera de modo horizontal, seu sistema é como batatas ou mandiocas, que são desprovidos de centro e de fundamento, são anárquicos.
No cerne, a diferença entre desenvolver e proliferar : modo de pensar um sistema sem centro e sem hierarquia.
Esse modelo vem se contrapor ao modelo da árvore, de Descartes, que havia fixado a noção da teoria de conhecimento que estabelecia que as raízes são a metafísica, o tronco é a física e os galhos são os diferentes ramos do saber, dos quais 3 são os mais importantes – a medicina, a mecânica, a moral.
Alguns exemplos desse modelo : o estudo dos princípios do conhecimento e da moral (empirismo),o tribunal da Razão (Kant), a ideia de um saber absoluto (Hegel) etc.
Ora, por esse modelo, dizem Deleuze e Guattari, a Filosofia se priva de pensar a diversidade, o movimento e a própria natureza da experiência (o processo). E o interesse do rizoma é que, ao afirmar a diversidade, o movimento e o processo, ele nega o princípio único superior.
Se aceitar esse princípio, a Filosofia se fecha sobre si mesma. E na realidade ela é movimento, ela acontece, ela não é privilégio de filósofos, ela pertence e diz respeito à vida ordinária. Mesmo onde não há Filosofia da maneira clássica, como no Ocidente, ela pode se revestir de outras formas de sabedoria, pois ela é essencial à existência humana.
Fazer rizoma, e não raiz, é recusar um ponto de partida privilegiado, um aspecto privilegiado. Tudo tem o mesmo valor. O que se vai analisar são as conexões, o modo como as coisas funcionam e a partir daí o método de pesquisa, ou de reflexão, prolifera de modo imanente. Explora territórios, procura pontos de referência, checa caminhos e, ao fazer isso, constrói a experiência.
Essa abordagem também recusa a ordem de progressão argumentativa conhecida há séculos, em Filosofia, por isso a ordem de leitura passa a ser intercambiável (o que me faz pensar no “Jogo da amarelinha”, de Cortázar).
Deleuze e Guattari ressaltam que é preciso um esforço para considerar o mais natural e o mais imediato, pois as condições ordinárias nas quais somos levados a agir e a pensar estão cheias de clichês e de ilusões.
Marly Peres