Você já leu Sylvain Tesson ? Leia. Essa expressão “Ler é sexy” não é minha, é dele. Sylvain Tesson é autor de extensa obra, um sujeito incrível. Ele não é filósofo, nem antropólogo, nem historiador, é um viajeiro. Ele vai para um lugar e mergulha ali, se isola, explora profundamente. A cada vez que publica um livro é nº 1 de vendas na França, país onde se lê como aqui se joga futebol, Além de geógrafo Tesson é jornalista, mas é culto e escreve bem. Muito bem.
E de todos os seus muitos livros, ele nos fala em especial e com carinho de “Un été avec Homère” (Um verão com Homero), livro que, para escrever, se isolou por meses numa cabana perdida, na Grécia, onde leu os 2 magníficos poemas que fundam a literatura.
As histórias contadas por Homero parecem ter sido escritas anteontem, diz Tesson. Como se ali ele nos desse todas as respostas às perguntas que fazemos hoje, sobre o amor, a morte, o sentido da vida. Sobre as esperanças que podemos alimentar, sobre as desilusões que elas podem nos trazer, sobre o modo de se comportar com os outros, consigo mesmo, com os animais, com as plantas, com os sonhos, com os monstros.
E afinal ficamos com a impressão de que poderíamos não ter escrito (nem lido, digo eu) mais nada, depois de Homero. Em outras palavras, deveríamos simplesmente parar de falar – o que eu ainda não consigo fazer, completamente, diz Tesson (e eu idem) – e só ler Homero (sim, incansavelmente).
Na “Odisséia“, ele fala Ulisses (Odisseu), o melhor dos guerreiros (porque é o mais sábio). Na “Ilíada“, a pretexto de contar a Guerra de Tróia, a guerra de todas as guerras, ele fala da condição humana. Pelo viés dos melhores conselheiros, dos melhores amigos, do amor de um homem, de uma mulher, de uma mãe, de um pai, de uma cidade por seu melhor príncipe.
Nunca é demais lembrar : economiza muito $ de divã, acredite !
E sobre ler só Homero, concordo modestamente com Sylvain Tesson, porque depois de ler romances desde muito cedo (agradeço ao meu pai), aos 15 anos descobri a Filosofia e então passei a ter romances e livros de filô para ler. E eu devorava tudo. E então, com o passar do tempo, a pilha de livros de filô foi ficando mais alta e a leitura mais constante. E então, dentre todos esses livros eu lia com mais prazer os livros sobre a Grécia. E um belo dia eu só lia praticamente isso. Encantada, apaixonada. E na urgência do tempo que passa e vai nos deixando sem tempo, leio Homero. E em Homero, a “Ilíada“. O que mais ? Tudo está ali. Todo o resto é nota de rodapé, literalmente. Sem tanta beleza e humanidade.
Marly N Peres