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Espírito

As crenças dos outros são superstições. As nossas chamam-se religião. 

Talvez a palavra espírito seja a que mais demonstra o estrago que uma “interpretação” pode fazer, ou uma tradução forçada. É exemplar, pois trata-se da confusão entre os conceitos de espírito e alma.

O primeiro trabalho de todo filósofo deve obrigatoriamente ser o de arqueologia, ou seja, escavar o solo em que o conceito está enterrado e escondido, tirar o pó que o recobre, encontrar a palavra primeira, onde está seu sentido. O resto são leituras, interpretações, traduções, adaptações. Claro que a tarefa do filósofo vai além disso, pois não somos meros técnicos. A Filosofia é um ofício de vida – de prática, sobretudo.

Mas num primeiro momento é fundamental ser honesto e procurar a origem, etimologicamente falando. Quando não fazemos isso, corremos o risco de transformar espírito em alma, por exemplo. Pois como bem disse Miguel de Unamuno, “As palavras precisam ser quebradas, para ver o que têm dentro.”

Quebremos então a palavra. É assim : quando a 1ª letra de uma palavra é uma vogal, ela tem em cima um acento que parece uma cedilha. Quando esse sinal está virado para a direita, dizemos que o espírito é suave, e quando ele está virado para a esquerda, que o espírito é rude. Nesse caso, vamos aspirar o som da vogal, como em alemão ou inglês, como por exemplo na palavra hotel.

Pois é, a palavra espírito não poderia mesmo ter origem mais bela : assinalar se uma palavra tem espírito suave ou rude !

Marly N Peres