Jean-Paul Sartre (1905-1980) soube encarnar como ninguém a figura do intelectual engajado. Segundo ele, com exceção da linguagem poética, em que as palavras são um fim em si mesmo, toda linguagem é ferramenta que os escritores têm obrigação de utilizar para denunciar as injustiças neste mundo cruel.
Com isso ele se opunha radicalmente à teoria da arte pela arte e exigia que a literatura se convertesse em instrumento de luta contra a opressão.
Sartre participou de umas poucas atividades clandestinas – todas elas sem a menor importância, diga-se de passagem – contra a ocupação alemã da França durante a guerra.
Não por acaso, Samuel Beckett (1906-1989) o incluía ironicamente no grupo daqueles “que ninguém levava a sério, nem a Resistência, nem a Gestapo”.
Marly N Peres
Em 1947, numa das tantas ocasiões em que posou de intelectual engajado, Sartre investiu de modo virulento, num programa de rádio, contra o general De Gaulle. Não só criticou a política conservadora do general, como se autorizou a ridicularizá-lo no plano pessoal, zombando de seu aspecto físico.
Mas já que a estampa de Sartre não era exatamente a de um Adonis, o poeta Paul Claudel (1868-1955) – irmão da genial Camille Claudel (1864-1943) aproveitou a deixa para destilar seu sarcasmo :
– O senhor Sartre critica o aspecto do general De Gaulle. Estará ele tão satisfeito com o seu próprio ?
Marly N Peres