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A síndrome do Minotauro no século XXI

Na mitologia grega, o Minotauro foi encerrado no labirinto por Dédalo para esconder sua existência ao resto do mundo. Meio-homem e meio-touro, ele simboliza as pulsões mais rejeitadas do nosso inconsciente, nosso lado “animal” (sim, os gregos já sabiam disso muuuuito antes de Freud).

Morto por Teseu com a ajuda do fio dourado que Ariadne dá a ele, o monstro representa a busca profunda de nossos comportamentos e o domínio de nossa natureza ; a tentativa de entender a natureza profunda do que nos comanda.

Hoje, nossas sociedades acreditam ter morto o Minotauro graças ao fio da Razão, mas só o que vemos aparecer é o fenômeno pulsional.

Dédalo tem o que esconder, Minos tem o que esconder, a rainha Pasífae tem o que esconder. Ora, quando afastamos dos olhos as consequências de nossos atos eles não desaparecem, mas nós olhamos para outro ponto, esperando que a memória se desative.

Será que esse mito tem conotações só psicanalíticas ? Domínio das pulsões, controle de si etc. ? Não, não. Tem também uma conotação sociológica. Nossas sociedades se veem confrontadas a múltiplos tipos de banir, que vão da exclusão à fratura social, construindo involuntariamente um labirinto no qual elas mesmas acabam prisioneiras.

Não é o Minotauro que gera sua própria cólera, é o labirinto que gera a cólera do Minotauro. Temos recorrido a diferentes Dédalos, para construir quilômetros de muros e cercas, corredores que formam labirintos estendidos. Quando pensam estar se afastando do outro, expulsando o outro, aquele que não faz parte delas mesmas, as sociedades parecem estar se protegendo do perigo desse monstro, dessas pulsões animais que tanto apavoram.

No mito, um dos protegidos de Athena, o herói Teseu vai resolver a questão. Figura inesperada, na história, que revela a falha lógica do labirinto. Para nos mostrar que não há labirintos perfeitos.

Marly N Peres